Príncipe, O
Há quinhentos anos, O Príncipe serve como um tipo de espelho no qual a consciência ocidental não cessa de se refletir, projetando sobre as palavras de
Ver maisReferência: 9788580633535
Há quinhentos anos, O Príncipe serve como um tipo de espelho no qual a consciência ocidental não cessa de se refletir, projetando sobre as palavras de Maquiavel ânsias, obsessões, esperanças, medos. Política e moral, meios e fins, o partido como moderno príncipe, a emergência do Estado, a política como técnica, os fantasmas do totalitarismo...
Como suposto fundador da modernidade política, Maquiavel entra obrigatoriamente em qualquer discurso filosófico sobre a vida em sociedade. No entanto, esse sucesso teve um preço considerável. Glosado, interpretado, adaptado e frequentemente também violentado, O Príncipe com muitíssima frequência acabou perdendo a própria fisionomia e assumindo a de seus admiradores ou detratores.
Esta edição dos quinhentos anos nasce precisamente do desejo de favorecer uma nova intimidade com um grande clássico que é mais citado que lido, antes de tudo valendo-se de uma versão em italiano moderno oportunamente realizada por Carmine Donzelli. A tradução acompanha o andamento quebrado, as peculiaridades e também podemos dizer a beleza da prosa maquiaveliana, mas ao mesmo tempo remove os inevitáveis obstáculos linguísticos e permite a abordagem do texto sem as costumeiras dificuldades da primeira leitura.
À tradução de Donzelli soma-se um vasto comentário e uma introdução igualmente rica de Gabriele Pedullà. Além de uma nova identificação sistemática dos autores clássicos e sobretudo humanísticos utilizados no Príncipe (com dezenas de descobertas que mudam, frequentemente de maneira decisiva, a interpretação), a anotação de Pedullà concede amplo espaço às práticas sociais e às crenças difundidas, indispensáveis para compreender o discurso maquiaveliano: a jurisprudência e a medicina, a teoria dos humores e a astrologia, o sistema do mecenatismo, as convenções dos gêneros literários, o princípio da imitação, as técnicas bélicas, a origem renascentista da dívida pública, as ânsias de renovação religiosa...
O trabalho de Donzelli e Pedullà apresenta-se, portanto, como um exercício original de filologia política, que liberta o texto do Príncipe das incrustações depositadas sobre ele no curso de meio milênio, com o objetivo de oferecer aos leitores ao mesmo tempo um clássico apartado das hipotecas ideológicas dos últimos duzentos anos e uma obra "fresca", para ser lida sem os preconceitos que inevitavelmente acompanham o nome de Maquiavel: para que sobre O Príncipe possam projetar-se as paixões do século XXI, e não como ainda hoje acontece com demasiada frequência as dos séculos XIX, XX ou XXI.
Sobre o autor:
Nicolau Maquiavel (1469-1527) foi o pensador político europeu mais radical anterior à Revolução Francesa. A partir de 1498, foi secretário da República de Florença e embaixador, além de inspirador de uma original reforma do exército pensada para substituir os soldados mercenários por uma milícia popular. Em 1512, quando os Médici voltaram a Florença, Maquiavel perdeu seu cargo e, acusado de conspirar contra eles, foi encarcerado e submetido à tortura. Depois da eleição de João de Médici a pontífice com o nome de Leão X, Maquiavel tentou voltar ao jogo político persuadindo os inimigos de outrora a inverter o sistema de alianças que os trouxera de volta à pátria e a retomar seu projeto de reforma militar, apoiando-se mais no povo armado que nos "grandes". Sua proposta, entregue às páginas do Príncipe entre o fim de 1513 e o início de 1514, não foi ouvida, mas nos anos seguintes Maquiavel encontrou admiradores fervorosos nos jovens aristocratas que se reuniam nos Orti Oricellari, persuadindo-os da necessidade de transformar as instituições de Florença em chave neorromana e filopopular. Em torno dessas conversas ganham forma os Discursos sobre a primeira década de Tito Lívio, mas o ambiente dos Orti Oricellari também é representado por Maquiavel na única obra política publicada por ele em vida: A arte da guerra (1521), que defende mais uma vez seu projeto de milícia. A partir desse momento, e até sua morte, a fama de Maquiavel estaria ligada sobretudo às suas obras literárias, principalmente a comédia Mandrágora e a História de Florença. O ex-secretário faleceu em 1527, pouco depois de os Médici serem novamente expulsos de Florença em consequência do saque de Roma, sem que O Príncipe, a História e os Discursos fossem publicados, o que aconteceu somente entre 1531 e 1532.
Sobre o tradutor do italiano antigo para o italiano moderno:
Carmine Donzelli (1948) dirige a casa editorial que ajudou a fundar em 1993. Em 2012, publicou uma edição com prefácio, introdução e comentário do caderno de Antonio Gramsci sobre Maquiavel, com o título O moderno Príncipe (Donzelli).
Sobre o autor da introdução e dos comentários:
Gabriele Pedullà (1972) ensina literatura italiana e literatura italiana contemporânea na Universidade di Roma iii e é professor visitante na Universidade de Stanford e na ucla. Publicou, entre outras obras, La strada più lunga. Sulle trace di Beppe Fenoglio (Donzelli, 2001), Racconti della Resistenza (Einaudi, 2005), In piena luce. I nuovi spettatori e il sistema delle arti (Bompiani, 2008; tradução inglesa ampliada, Verso, 2012), Parole al potere. Discorsi politici italiani (Bur, 2011) e Machiavelli in tumulto. Conquista, cittadinanza e conflito nei "Discorsi sopra la prima deca di Tito Livio" (Bulzoni, 2011). Com Sergio Luzzato, organizou o Atlante della letteratura italiana (Einaudi, 2010-2012). Escreve para o jornal Il Sole 24 ore. Em 2009, estreou como autor de ficção com a publicação de Lo spagnolo senza sforzo (Premio Modello opera prima, Premio Verga, Premio Frontino) pela editora Einaudi.
- Assunto: Ciências Sociais
- Autor: Maquiavel, Nicolau
- Coleção: Biblioteca Universal
- Editora: Martins Fontes - selo Martins
- Edição: 1
- Encadernação: Brochura
- Formato: 17,00 x 25,00
- ISBN: 9788580633535
- Páginas: 464